terça-feira, 8 de maio de 2012

Oeiteiro (conto)

Oeiteiro (conto)




No tempo remoto, a ordem cósmica estava estabelecida. As estrelas e os planetas tinham já encontrado os campos de atracção e as órbitas. No sistema solar, o planeta Terra operava a separação entre os continentes e os oceanos. Foi nessa fronteira do tempo e do espaço que um cavaleiro, o aventureiro dos ares, se lançou em viagem numa nave movida pelo vento cósmico. A nave era a Tervitaire, ou 'que traz vida do espaço', feita de matéria viva de carne e osso.Viajou pelo tempo de muitas gerações, passou por todas as constelações e ao aproximar-se do termo da viagem, por inspiração criadora, localizou o planeta azul e logo acertou a direcção da trajectória para chegar ao planeta Terra. Chegou no sétimo dia da criação. Ele e a nave imobilizaram-se numa zona enxuta, entremeada de braços de mar e nesse sítio permanecem. O cavaleiro olhou para a nave magnificente e, agradecido, deu-lhe o nome de Serra de Aire que quer dizer que se ergue viva nos ares.


No tempo histórico dos humanos, José de Arimateia fazia a viagem de mar para Inglaterra e acostou no mar da Nazaré para ver com os próprios olhos o mito do aventureiro dos ares. Chegou ao local com uma comitiva numerosa e falou com o cavaleiro dos ares mas mal conseguiu entender o nome do cavaleiro e logo o baptizou com água do Jordão nomeando-o Oeiteiro, por ser a pronúncia mais adaptada à língua que se falava no reino. A água deste baptismo foi a primeira a correr pelas duas ribeiras que circundam o Oeiteiro. A comitiva permaneceu algum tempo no local e cada vez que se ouvia o mar da Nazaré, José de Arimateia ficava inquieto até que decidiu seguir para a Inglaterra por terra, porque as embarcações ficaram inoperativas, não sendo possível repará-las ou substituí-las e também não conseguiu mobilizar a nave espacial.


Na idade média, os doze de Inglaterra quiseram conhecer a verdade do aventureiro dos ares para preparar a expedição antes da partida para Inglaterra. Pela marcha dos doze cavaleiros ao encontro do cavaleiro dos ares este foi reavivado. O cavaleiro dos ares ouviu o plano dos doze e levantou a cabeça clamando a bênção de São Bernardo. No regresso, em agradecimento pelo sucesso da expedição, os doze de Inglaterra, também conhecidos por magriços, trouxeram de França para o Oeiteiro, a imagem de São Bernardo que depuseram sobre a cabeça erguida do cavaleiro dos ares.


Este conto, se for verdadeiro, justifica o respeito pela Serra de Aire por se tratar de uma área viva; testemunham a vida da serra a inclinação dos flancos, os milhares de ossos petrificados e o algar do Trovão que é resquício do umbigo da criatura. Também mostra a razão por que o Outeiro (designação toponímica moderna oficial) se situa num sítio elevado e é delimitado por duas ribeiras e ainda o motivo de São Bernardo ser o padroeiro do lugar.

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